quarta-feira, agosto 17, 2005

Cremação..

Voltei! Por uma só peregrinação nefasta. A solidão. Não solitariamente só, mas solidariamente contigo.
Já não há gente nos subúrbios do presente. Restam corpos iludidos na degradação. Perdem-se na densidade das palavras oferecidas. Portadores de bocas prostitutas vendendo a frase à luz da sua noite rarefeita. Das entranhas dos diálogos restam pedaços desconexos que despertam de uma qualquer gravação descartável.
A comitiva dos convites morre pelo alimento do isolamento. Arreganho na nitidez das letras do riso conjunto.
Não desprezei, muito menos rescindi, apenas rebolei na carcaça que se avizinha. O silêncio espreita pela lucidez do vazio, cremando o drama da sensatez. Faço de palhaço no beco da consciência.

terça-feira, junho 21, 2005

Anemia

Posted by Hello

Sinto-me como coágulo, congelei por qualquer estado de espirito anímico, reduzo a minha vontade ao arranhar e esticar da pele, apetece-me qualquer outro sentimento que não seja este, o vazio perplexo e completo. Quero a dor física para me tornar imune à anemia cerebral. Ou então sexo, para que a dor não seja egoísta e se torne prazerosa em nós.
O abismo abre-se e torno-me gás...infiltrado entre pedregulhos pardacentos, tenho a sensação de me suster a meia altura, nem perto do chão, nem perto do céu. Estou por ali, a deambular, ao sabor da tempestade que me empurra.
Torno subnutrição cerebral em puro desespero e ânsia de cravar a minha saída pelo lado do sangue oposto ao que está em mim, ou seja, ao de outro. Lentamente, vou escoando para a raiva e para o ódio. Sinto a pele a arder, pelos puxões sucessivos a que me sujeito, quero o sabor a sangue quando te morder.
Por fora, a cidade encontra-se peganhenta, cheia de perfeccionismo agradados em crânios esmagados. Encontro um trilho por onde erguer a minha pessoa. Por hoje sei que ainda não parei. Talvez que a almofada me acalme. Que o sono volte a mim, e me arranque este estado de rara sensatez e de extinta compreensão. Espezinhar. Pular. Saltar. Correr. Ofegar, ofegante. Sentar. Voltar a esperar...a ansiedade da fuga à anemia. Já se ouvem de novo, os pré-avisos de uma sinistralidade precavida de morte.

quinta-feira, junho 16, 2005

Vultos.

Resvalo do sonho para a concretização da escrita. Ainda...há procura de um método, ou talvez e apenas de uma lógica eficaz que faça brotar histórias de divãs fatigados e televisores oleosos , reconheço todo o peso que na hora a tal busca tem.
Procuro personagens perceptivelmente humanas, capazes do sencionalismo, do erotismo, da escravidão metabolizável à coerência da atitude. A letra e a frase são passos preciosos sobre o gatilho. O olhar depreciativo, a leveza do corpo. Os dedos retidos na chave que destranca o sossego, a intensidade da mão que pousa o copo, a tristeza da íris que capta a brisa, o peso do crânio sobre o leito dos amantes.
São vultos e frutos da solidão perturbada pelo que vem ao real. São contos retidos na dolorosa e lenta extracção da essência da minha e sua humanidade. Construções meticulosas, cautelosamente reduzidas a alimento, para lhe provar a pele. Sei-lhes o lar, os hábitos, conheço-lhe o ferro que lhes corre no corpo. Inalam-me o tempo, volatilizam a memória. Reduzem as migalhas da minha dualidade habitacional...

segunda-feira, maio 23, 2005

...ção.

Sobre os meus olhos desenha-se uma planície soturna, deserta, recheada de garras infantis e anzóis ensanguentados pelos lábios da redundância.
Posso ser progenitor de mil ideias, mil discursos, mas vejo-me na obrigação de uma coerência, ainda que volátil. Nunca ao extremo, sempre nos passos do limite, sento-me e espero até que nova vaga de ódio venha. Situações enforcadas na possibilidade de testemunhas argumentarias de uma causa directa, extinta à nascença.
Uma arma junto à nuca avisa-me o trilho em que suicidarei a mão que a sustenta.
Um herbívoro devora a sêmola do cordeiro do pecado à humanidade.
Um gosto a fel amplamente esquecido ao sabor do comodismo.
Uma moeda enforcada à luz da ética pelo nó do capitalismo.
Um suícidio social pela beira da diferença.
Um nó na voz que me faz mudo de qualquer possibilidade de sentido.
Palavras silenciadas pelo som do silêncio.
7 ideias entram em corrupção pela orla do ponto de fusão.
3 homens juntam-se na violação da purificação.
Dois seres que nascem pelo abraço da relação.
E dois seres que se suicidam pelo esquecimento da razão.
Um deus feito homem à idade em que nasceu sua crença.
Uma cabeça, um feitio e o meu perfeito juízo que podia ter tido.
Eu e tu a procriar ao som do acabamento da nossa jazida.
Eu. Só eu como nunca fui, como talvez jamais serei, mas eternamente eu.
E tu. Só tu, como já foste, como serás e como sei que és...
Mar de insatisfação, caminhante eterna, na busca da soma da vida...
Responsável pela coerência que suponho que possuis...
Eu e tu, na nossa obrigação de amantes, como nunca ontem fomos, nem como hoje somos, nem como amanhã algum dia seremos.Eu e tu? Que fazemos? Eu e tu? Que futuro? E nós? Seremos, somos cegos? Ou tornaremos o amanhã um dia mais visível?

quarta-feira, abril 06, 2005

Ferro...

Posted by Hello


No outro barco olhas-te anémica, o ferro é insuficiente para te segurar a carne. Que desejo tens em partir da estranheza, em partir de ti..a consciência é te desconhecida, perdeste o faro da tua razão. Que ignorância te reina!! A ascensão da tua lógica sussurra o principio de ti. Realças a solidão que te assola. Completamente, ignobilmente livre do drama do só. Quem te morreu na venda do sangue? Suspendes a imagem da tua subjectividade, acordas-te ao galgar do tempo, debates a tua velocidade. A veracidade da situação. Embates com a violência que te é imposta, mas é o “algo” que não farás, cairás assim no teu abismo da desistência e é tão curto e cobarde! Constitui o passo que te leva às entranhas da insatisfação,. Não te quero no desinteresse da vida, é nele que reside o nosso desprezo. Olhas o nada como percentagem graúda do dia. Quererás ouvir de ti algum futuro?! A perspectiva em hoje do amanhã é inexistência? Que será dos minutos, das horas? Há um esforço em ti, como se uma ansiedade o proporcionasse, talvez um...fim! Bastava um minuto uma ideia..o tempo é vasto e produz a lesma de ti. Não te liberta o raciocínio...pára!! Alguns medicamentos depois estarás bem, o ferro suportar-te-á na vida.

sexta-feira, março 11, 2005

Tempo!



Adquirindo uma noção intemporal de um homem prostrado e moldado a quatro paredes, conheço-o. Sei quem é, mas a palavra não me deixa obstruir o pensamento, por isso falo dele. A consequência é uma repugnância éfemera, que de tão duradoura passo de estafeta ao genital que lhe deu vida. Ganha a consciência, perco-me n'ele e deixo-me envolver pela apatia que o assasina, pela preguiça que o vai esfaqueando a cada movimento na direcção aproveitável. Torna-mo-nos um, uma condensação de matéria psiquica, uma centrifugação embebida em tons de dualidade. Após o múrmurio do silêncio, explode um ruído enterrado sob a forma de doutrinas imorais. Assemelha-se à grandiosidade de uma explosão colossal! SEPARA-MO-NOS, somos bailarinos do suicidio, cá e lá. Tumor, ácido e deformação faço-o sangrar, faço-o doer, mas na manhã seguinte ele acorda.E foi o principio do fim. Esqueci-me do tempo em que o desmaio era parte integrante de nós. Impeço a colorização, não me é explicado, logo não posso saber...curiosidade e descoberta. Precisarei de uma destilação, apurando tudo o quanto é de mim, não restará a menor sombra de ti. Fuzilar-te-ei numa ignição própria do teu sobejo..


Para "Coisa Morta".

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Auto-cataclismo Posted by Hello


Contornei a esquina, ouvia a massa liquida de aspecto viscoso e negro, podia sentir que engolia o mundo, sentia a lava da apatia a coagular nos teus pulmões sanguíneos. Olhava para trás, fui correndo, na esperança de que nada me tocasse, percorria as ruas numa ansiedade que arreganhava a pele, sentia as carapaças estaladiças a sucumbir sobre os pés descalçados. Usava a fisiognomonia para esconder o medo, ajoelhava a cada meia légua, aterrava os joelhos em calçadas de carvão, tudo era fogo, tudo já se tinha extinguido, eu, as baratas e os escaravelhos. Sobravam alguns cascalhos guardando maxilares carunchentos e crânios heteromórficos, era chocante o cheiro a sangue fervido que inalava. As moscas provaram as vísceras humanas e esfomeadas, por tripas morreram na cicuta da ansiedade. As baratas degradavam a pele e a carne, os escaravelhos interpretavam o corpo como esterco abundante, rodeados de um festim de mortandade imenso, ascendiam.
A sul brilhava o sol ceifado para a morte, num rodopio gigantesco era engolido com as réstias pétreas de um Universo empurrado para a gorjeta. O meu mundo era esgoto, uma assimilação de destruição, um vómito embrulhado pelo sol, regurgitando o registo de qualquer vida presente em mim. Em tons de clarão, carvão e conformação assistia da minha poltrona à minha fuga convulsante.
Perante um convite para a morte, tendo como realidade um mundo em cataclismo, espero o ligar da televisão que me lança na cognição. .